Diplomacia em Alta

O embate entre os Estados Unidos e o Brasil representa uma das crises mais graves nas relações bilaterais das últimas décadas, marcada pelo tarifaço e por sanções a autoridades brasileiras. Após um período de tropeços e contradições — em que a política externa foi frequentemente contaminada por disputas ideológicas —, a partir de setembro o Brasil passou a colecionar resultados expressivos em sua relação com Washington. Desde o encontro entre Lula e Donald Trump, em Nova York, seguido por uma conversa telefônica cordial, o tom da interlocução mudou. O próprio presidente disse que “rolou petroquímica” entre ele e Trump — expressão bem-humorada que simboliza o início de uma distensão num cenário até então dominado por desconfiança.

O diálogo ganhou corpo na reunião entre o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o chanceler Mauro Vieira. Segundo o Itamaraty, o encontro foi “ameno” e “construtivo”. Ambos os lados se comprometeram a organizar uma nova reunião presidencial e, mais importante, não houve imposições unilaterais nem exigências políticas dos EUA. Em Brasília, o gesto foi interpretado como sinal de respeito à soberania brasileira e disposição para reconstruir pontes. Como resultado prático, foi acordada a retomada de reuniões técnicas bilaterais sobre comércio e investimentos, paralisadas desde o início do ano.

Enquanto isso, o vice-presidente Geraldo Alckmin cumpre agenda na Índia, liderando uma missão multissetorial com foco em ampliar o comércio, os investimentos e a cooperação tecnológica. Em Nova Délhi, Alckmin participa das negociações para expandir o Acordo de Preferências Tarifárias entre o Mercosul e a Índia — movimento que complementa a reaproximação com Washington e reforça a estratégia de diversificação de parcerias econômicas do Brasil.

O saldo diplomático é claramente positivo. O governo reafirmou sua autonomia sem fechar portas, demonstrando que é possível sustentar posições independentes sem inviabilizar a parceria com a maior economia do mundo. Essa combinação de firmeza e moderação devolve credibilidade ao Itamaraty e distancia o país do risco de isolamento regional.

Ainda há desafios — a revisão das tarifas americanas e a suspensão das sanções dependem de negociações complexas e demoradas. Mas, ao priorizar o diálogo, o pragmatismo e a previsibilidade, a diplomacia brasileira mostra maturidade. O país retoma seu papel histórico de ser reconhecido por sua independência e valorizado por sua capacidade de manter abertos os canais de diálogo, mesmo quando o mundo se fecha em blocos e incertezas.

Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/murillo-de-aragao/diplomacia-em-alta/

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